Barcos de madeira de Santo Amaro

making of a boat

Situada na costa norte da ilha do Pico e virada para a ilha de São Jorge, podemos encontrar a vila de Santo Amaro, a terra dos barcos. Esta freguesia, que não possuía uma baía, nem um porto naturalmente protegido, nem uma boa rampa para os barcos maiores que ali eram construídos, foi durante muitos anos um lugar onde se concentrou o conhecimento, o empreendedorismo e as mãos necessárias para a construção naval em madeira. Santo Amaro é a grande referência no que diz respeito ao artesanato de navios no Arquipélago dos Açores.

Porém, a mão de obra, os homens que durante anos cortaram as árvores e fizeram os barcos, não eram todos de Santo Amaro. Muitos vinham de outros locais da ilha do Pico e da ilha vizinha de São Jorge, como é o caso do mestre João Alberto das Neves, que veio desde muito cedo trabalhar para Santo Amaro nos estaleiros do mestre José Costa.

Hoje, Santo Amaro não é a terra da construção naval de outros tempos. A construção de barcos de madeira foi adiada pelo uso de barcos de fibra de vidro e produção em série, saindo mais barato e mais rápido. A produção local de embarcações foi reduzida a pequenos barcos de pesca ou a manutenção de barcos baleeiros.

Tudo o que o mestre João Alberto aprendeu foi em Santo Amaro, com outros mestres mais velhos do que ele, e faz questão de nos ensinar esse conhecimento empírico acumulado, sempre citando os seus mestres. Conta-nos que aprendeu “isto” com o mestre Januário de São Roque, “aquilo” com o mestre Gambão das Velas e “mais isto” com o mestre Rachinha da Calheta.

Hoje, ele é o último mestre dono de um estaleiro que viveu o apogeu da construção naval em Santo Amaro. Na época da construção da famosa “Frota Azul”, o capitão construía de raiz nove atuneiros, com cerca de 30 metros de comprimento cada (98 pés), como o “Falcão do mar”, a “Pérola de Santa Cruz”, “Balaia“ e a “Flor do Pico”. Mas ele não os construiu sozinho e, mais uma vez, faz questão de lembrar todos os homens que trabalharam com ele nas diferentes especialidades.

Hoje, o mestre está a construir uma peça extraordinária: um atuneiro na escala 1:10. É uma réplica da “Balaia”, como se fosse um verdadeiro navio. Assim, ele consegue explicar como foram construídos os barcos em Santo Amaro, desde as técnicas aplicadas até às melhorias introduzidas ao longo do tempo.

Os quatro atuneiros mencionados acima e construídos no estaleiro do mestre João Alberto, continuam a navegar e a pescar nestes mares.

Luís Bicudo, Our island Guide

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